Muita gente ainda fica com uma pulga atrás da orelha quando mostramos que as casas de madeira são não apenas uma opção de construção mais barata, mas também uma alternativa muito mais sustentável do que praticamente qualquer outro tipo de construção convencional. Tudo graças à madeira de reflorestamento.
Essa confusão é comum e o questionamento principal é quase sempre este: como uma construção de madeira pode ser mais sustentável se é preciso derrubar árvores para construí-las? A verdade é que a grande maioria das madeiras utilizadas na construção civil são provenientes de áreas de reflorestamento e ou recuperação.
Neste post vamos mergulhar a fundo nas madeiras de reflorestamento e tentar tirar todas as dúvidas acerca de sua sustentabilidade. Também vamos mostrar como a madeira é uma alternativa muito mais ecológica quando comparada com materiais como o concreto e o aço, que dominam a construção civil. Vamos aprender?
O que é a madeira de reflorestamento?
A madeira de reflorestamento é toda madeira proveniente de espaços replantados para fins comerciais. Geralmente são áreas fortemente desmatadas por anos onde o reflorestamento com mata nativa já não era mais possível ou economicamente inviável.
Dessa forma, são replantadas nestes espaços espécies de árvores com crescimento acelerado, onde o tempo de desbaste (o corte para aproveitamento da madeira) costuma girar em torno de 6 a 7 anos. Pode parecer muito tempo, mas no ciclo de vida das árvores esse período é apenas uma fração de tempo.
Com o manejo de áreas replantadas, é possível criar uma cadeia produtiva eficiente e ecológica. Dessa forma, o desbaste de uma área replantada não significa o fim do estoque de madeira, já que a próxima safra já está próxima do fim em outra área e assim o ciclo continua.
O reflorestamento no Brasil
No país, a madeira de reflorestamento somente foi inserida em 1966 com a Lei de Incentivos Fiscais ao Reflorestamento. Os objetivos eram tanto garantir um fornecimento contínuo de madeira para o setor de construção civil e movelaria, quanto proteger o meio ambiente evitando que novas áreas continuassem a ser desmatadas.
Ainda no final daquela década já começam a ser plantadas as primeiras áreas de floresta renovável para fins comerciais, utilizando principalmente espécies com ciclo de vida acelerado e madeira com muito potencial comercial como o eucalipto, o pinus e a araucária.
Com o passar dos anos, o cultivo e o manejo foram evoluindo até chegar a introdução da silvicultura (ciência dedicada a encontrar as melhores técnicas de reflorestamento e introdução de múltiplas espécies que podem se beneficiar umas com as outras), acelerando ainda mais a diminuição do impacto ambiental da madeira reflorestada.
Como funciona o reflorestamento
A madeira de reflorestamento comercial é obtida de maneira cíclica, manejando áreas onde seu cultivo é permitido. Isso significa que um ciclo produtivo precisa ser respeitado, já que uma área de reflorestamento com culturas rápidas leva até 7 anos para estar pronta para o cultivo.
Fase 1: plantio
A primeira fase começa com o plantio de mudas em áreas onde o reflorestamento comercial é permitido. O solo recebe os cuidados necessários para garantir uma boa produtividade entre ciclos e pode haver mudança de espécies entre os ciclos, mas isso não é comum.
Fase 2: cultivo
Após plantadas, as árvores começam a ser cultivadas seguindo todos os cuidados necessários. Muita gente não sabe, mas as árvores utilizadas para madeira de reflorestamento também podem sofrer com pragas e por isso é preciso realizar um cultivo monitorado, evitando problemas capazes de matar as árvores ou prejudicar a qualidade da madeira.
A silvicultura é importante durante todo o processo, mas tem um papel essencial nesta fase de cultivo. Manejar o solo e o espaço, combinando a madeira de reflorestamento com outras plantas que podem beneficiar as árvores é só uma das soluções desse tipo de abordagem.
Fase 3: desbaste
A fase de desbaste acontece quando as árvores atingem a idade cerca, cerca de 6 a 7 anos após o plantio. Aqui as madeiras são derrubadas e os galhos menores cortados, deixando apenas as toras que serão transportadas para receber tratamentos e beneficiamento.
Fase 4: beneficiamento
Após receberem as todas, as indústrias beneficiadoras começam a trabalhar com a madeira de reflorestamento. Daqui saíram as vigas, tábuas, chapas de madeira, ripas, pontaletes e compensados utilizados na construção civil e também na marcenaria.
Ademais, o beneficiamento da madeira de reflorestamento pode ser utilizada para objetivos completamente distintos da construção civil e da movelaria, como a produção de papel, celulose e derivados que são utilizados quase que universalmente por todos no dia-a-dia.
Fase 5: construção/marcenaria
Após beneficiada, a madeira vai para campo cumprir seu trabalho. Ela pode ser utilizada como material construtivo para casas pré-fabricadas de madeira, chalés pré-fabricados e até mesmo cabanas de madeira. Ademais, ela também pode ser usada na construção civil como fôrma de concreto, fôrma de fundação e outros papéis secundários.
Atualmente a grande maioria da madeira de reflorestamento é utilizada em estruturas de cobertura, usos secundários na construção civil convencional, acabamentos e móveis e por último em casas pré-fabricadas. Quanto mais adotarmos a pré-fabricação com madeira, mais contribuiremos para diminuição das emissões de gás carbônico e preservação de recursos renováveis como veremos a diante no artigo.
Fase 6: replantio e reciclagem
A fase de replantio começa logo após o desbaste. A terra recebe um tempo para se recuperar, mas logo em seguida já entra na fase de replantio e o ciclo de reflorestamento começa novamente. Também começa aqui o ciclo de reciclagem, tanto por meio de madeiras de demolição quanto pela reciclagem de subprodutos como os papéis.
Quais as madeiras de reflorestamento mais comuns?
Aqui no Brasil as principais madeiras de reflorestamento são 4: o pinus, o eucalipto, a araucária e a teca. Essas quatro espécies (nem todas nativas) são as que mais se adaptaram ao clima e fornecem excelente produtividade ano a no. Cada uma tem aplicações, características e custos diferentes. Confira:
Madeira de Pinus
O pinus é uma das árvores mais utilizadas no regime de reflorestamento comercial no país. Ela também foi uma das primeiras a serem inseridas nesse sistema assim que surgiu o interesse comercial e regulamentador da atividade. A madeira de tons claros é leve e oferece boa resistência a cargas. Com diversos tratamentos químicos, esse tipo de madeira pode ser utilizada para fabricar desde móveis até casas de pinus.
Madeira de Eucalipto
O eucalipto é de longe a árvore mais utilizada para obtenção de madeira de reflorestamento no Brasil. As duas espécies mais populares são a grandis e a citriodora: a primeira com madeira clara e relativamente leve e a segunda mais escura e resistente. Tem um ciclo de crescimento muito acelerado e apresenta muita resistência à carga, além de ter um bom acabamento. Isso faz com que ela seja muito utilizada em construções rústicas e principalmente madeiramentos para diversos tipos de telhado.
Madeira de Araucária
A araucária é uma árvore nativa brasileira (a espécie araucária angustifolia se originou no nordeste brasileiro, há pelo menos 200 milhões de anos) que produz um tipo de madeira com tons e textura agradáveis para trabalhos com marcenaria, sendo uma das preferidas para a produção de móveis de alto e médio padrão. O ciclo natural de crescimento da araucária é de cerca de 15 anos, mas no regime de reflorestamento e com mudas modificadas esse tempo chega a despencar para somente 8 anos.
Madeira Teca
A teca também é amplamente utilizada na construção de móveis e projetos de marcenaria. Com boa resistência e excelente acabamento, ela costuma ser utilizada em móveis de alto padrão por ter um custo mais elevado de produção que se reflete no valor final do produto.
Vantagens da madeira de reflorestamento
Uma das grandes vantagens da madeira de reflorestamento é seu baixo impacto ambiental quando comparada com outras matérias primas predominantes na construção civil. Ademais, seu ciclo de vida é benéfico para o meio ambiente, ajudando na neutralização de gás carbônico. Veja as principais vantagens:
A produção de cimento é uma das maiores poluidoras do meio ambiente no mundo. Segundo estimativas, se a indústria do cimento fosse um país, ela seria o 3º maior emissor de CO² do planeta — atrás somente da China e dos Estados Unidos. Portanto, não é uma surpresa que a madeira de reflorestamento seja uma melhor alternativa.
Ademais, a produção de calcário, matéria prima essencial para a produção de cimento, é uma atividade não renovável que gera desmatamento em grandes áreas de floresta nativa no Brasil (a mineração é responsável pelo desmatamento de 9% da Amazônia, eclipsado apenas pela agropecuária, responsável por 80%) . Passando quase despercebido devido ao status quo que o cimento possui na construção civil, essa atividade é uma das mais nocivas ao meio ambiente.
Distribuição de florestas replantadas no Brasil
O Brasil conta muitas áreas de reflorestamento tanto comercial quanto ambiental. Para se ter uma ideia da escala do plantio de madeiras de reflorestamento, veja abaixo o gráfico interativo do IBGE (clique na imagem para abrir):
Como saber se a madeira é de reflorestamento?
Para ter certeza que você está consumindo produtos (casas de madeira, móveis de madeira, etc.) que utilizam madeira oriunda de reflorestamento basta buscar pelo selo do FSC (Forest Stewardship Council). O FSC é uma organização independente mundial que fiscaliza e certifica a produção de madeira de forma renovável.
Confira a etiqueta do produto e busque pelo selo. Em outros produtos como casas de madeira, onde é improvável encontrar esse tipo de selo, consulte a construtora para conhecer os fornecedores de madeira. Produtores também podem aplicar para o selo de forma coletiva, então a melhor maneira de ter certeza é entrar em contato com a empresa fornecedora.
Conclusão sobre as madeiras de reflorestamento
As madeiras de reflorestamento são uma ferramenta incrível de proteção do meio ambiente e redução da emissão de CO² na atmosfera. Do lado do consumidor, prefira sempre madeiras com esse tipo de origem. Assim você garante que florestas nativas não estão sendo derrubadas para criar os produtos que você consome.
Ficou com alguma dúvida sobre as madeiras de reflorestamento? Deixe nos comentários para podermos lhe ajudar.
Confira outros tipos de madeira e suas características
Não encontrou nesta madeira as características ideias para sua obra ou projeto? Confira outros tipos de madeira que podem ser interessantes:
- Madeira Acácia
- Madeira Angelim
- Madeira Aroeira
- Madeira Cabreúva
- Madeira Caixeta
- Madeira Carvalho
- Madeira Cedrinho
- Madeira Cedro Rosa
- Madeira Cerejeira
- Madeira Cumaru
- Madeira Cupiúba
- Madeira de reflorestamento
- Madeira Eucalipto
- Madeira Freijó
- Madeira Garapeira
- Madeira Goiabão
- Madeira Guajará
- Madeira Imbuia
- Madeira Ipê
- Madeira Itaúba
- Madeira Jacarandá
- Madeira Jatobá
- Madeira Louro
- Madeira Maciça
- Madeira Mogno
- Madeira Nogueira
- Madeira Pau-marfim
- Madeira Peroba-rosa
- Madeira Perobinha
- Madeira Pinho
- Madeira Pinus
- Madeira Roxinho
- Madeira Sucupira
- Madeira Tatajuba
- Madeira Tauari
- Pinus Tratado