Dentro do ramo da arquitetura e urbanismo, existem diversas tipificações que guiam as construções, levando em consideração elementos e decoração diferentes entre si. Entre alguns desses tipos, temos: a arquitetura moderna, arquitetura brutalista, arquitetura desconstrutivista e a bioarquitetura, por exemplo.
No conteúdo de hoje, vamos focar neste último tipo: a bioarquitetura ou arquitetura orgânica, como também é chamada. Esse modelo de construção considera conforto, funcionalidade e beleza de uma obra, ao mesmo tempo em que é totalmente integrada e cuidadosa com o ecossistema e o meio ambiente.
Existem diferentes composições que podem ser usadas para caracterizar a bioarquitetura. Ademais, os impactos positivos e as vantagens são enormes para quem está construindo e para todo o planeta.
Se você deseja aprender um pouco mais sobre esse tema e conferir alguns exemplos desse tipo de arquitetura que têm ganhado cada vez mais espaço no Brasil, continue lendo o artigo abaixo!
Principais características da Bioarquitetura
Como já mencionado, esse tipo de construção integra beleza e comodidade às melhores práticas voltadas ao meio ambiente. Dessa forma, o profissional com foco em arquitetura orgânica precisa criar obras ou edificações que sejam mais naturais possíveis, envolvendo as características do nosso planeta.
Sua principal diretriz está associada às condições climáticas em que a construção está inserida. Ademais, o conforto acústico e luminoso está atrelado ao clima também. Com essa característica, o consumo de energia pode ser otimizado, evitando desperdício e criando um contexto mais sustentável.
Ao mesmo tempo em que pode ser considerada uma arquitetura mais “green”, o objetivo da bioarquitetura é transportar o ecossistema nas construções, fazendo uso das condições climáticas (como já citado) ou de materiais de construção produzidos na região.
Como características principais desse tipo de arquitetura, então, podemos considerar:
- Uso coerente das condições climáticas da região atrelada das características da construção;
- Uso de materiais produzidos regionalmente nos projetos;
- Redução de poluentes gerados a partir da construção de matérias-primas;
- Edificações mais “vivas”, com traços do ecossistema;
- Sistemas cíclicos e não poluentes de saneamento e sistema hidráulico da obra;
- Sistema de ventilação e iluminação o mais natural possível, evitando o uso da energia elétrica;
- Reciclagem de materiais para uso na decoração ou na estrutura da casa – como telhas ecológicas;
- Etc.
Um ponto super importante de citar sobre os projetos de bioarquitetura é a sua capacidade de ajudar na resolução de alguns problemas sociais. Um exemplo disso é o déficit habitacional.
Com a bioarquitetura, espera-se que as pessoas possam construir suas casas usando materiais regionais, que são mais em conta e mais acessíveis também.
E quais são os elementos da Bioarquitetura?
Entre os elementos mais comuns encontrados em obras adeptas a bioarquitetura, podemos ressaltar alguns deles – que, inclusive, são facilmente encontrados e abundantes em sua maior parte.
- Pedra: a pedra pode ser usada para diversos propósitos, como construção de paredes, fornos e muros também. Esses materiais podem ser encontrados no próprio terreno da construção.
- Areia e argila: para estrutura de paredes.
- Bambu: para estrutura de telhados ou decoração.
- Palha: no caso da palha, seu uso está atrelado a otimizar a resistência de tijolos, além de construção de paredes.
- Madeira de reflorestamento (com a necessidade de certificação): essa madeira é usada para estrutura da construção, decoração e confecção de móveis também.
- Cimento queimado e tijolo de adobe: também para a estrutura da casa.
- Papelão reciclado;
- Terra: a terra pode ser utilizada, principalmente, em paredes e na estrutura de um projeto de bioarquitetura.
- Etc.
Qual a diferença entre Bioarquitetura e Arquitetura orgânica?
Muitas pessoas utilizam o termo bioarquitetura como sinônimo da arquitetura orgânica e não está errado. Esses dois tipos são super parecidos entre si, diferenciando-se em pouquíssimos aspectos.
A arquitetura orgânica, por exemplo, foi criada dentro da arquitetura modernista, com início no século XX, por volta dos anos 1910 e 1939. Esse tipo considera o movimento, fluidez e dinamismo da natureza nas construções.
No caso da bioarquitetura, algumas fontes acreditam que seu surgimento se deu anos mais tarde, em 1960, com intuito de utilizar elementos ecológicos, atrelados a expansão da tecnologia, que permitia mais otimização das fontes naturais do planeta.
De forma geral, ambas são muito parecidas e se complementam entre si, sendo a bioarquitetura considerada como um “braço” da arquitetura orgânica.
Vantagens da Bioarquitetura
Diante desse cenário de sustentabilidade, preocupação com o meio ambiente e com o ecossistema, você já deve ter imaginado a importância e os benefícios da bioconstrução ou da bioarquitetura, ainda mais com as diversas questões climáticas em que estamos inseridos hoje em dia.
Dessa forma, a importância da bioarquitetura está diretamente ligada a redução do impacto ambiental, valorização da natureza e redução de consumo enérgico. Mas, não acaba por aí: a troca de conhecimento entre as comunidades locais e a valorização do comércio regional também entram em questão.
Além dessas vantagens, também é possível citar:
- Redução de gastos durante a obra;
- Otimização da iluminação solar, utilizada para fins termo ecológicos;
- Preservação do meio ambiente;
- Tratamento de resíduos da construção;
- Conforto térmico;
- Utilização de materiais impermeáveis;
- E muito mais!
Como fazer Bioarquitetura?
Alguns processos são super necessários ao trabalhar com a arquitetura orgânica, principalmente, no que diz respeito a estrutura de um projeto de bioconstrução e os sistemas atrelados a obra.
Para ficar mais claro, abaixo, vamos abordar as especificidades de cada etapa da obra, desde o estudo de materiais a decoração. Acompanhe!
1. Matérias primas disponíveis
O primeiro passo para uma construção focada na bioarquitetura é verificar as matérias primas que estão disponíveis na região da construção, para que elas possam ser aproveitadas sem necessidade de um longo período de transporte e, por consequência, sem grande emissão de gases no meio ambiente.
Além de movimentar a economia regional, os materiais de pequenas empresas costumam passar por processos semelhantes ao de artesãos, com cuidado e partes feitas à mão.
Ademais, é necessário entender mais a fundo sobre o clima, solo e localização: tudo para que as técnicas sejam adequadas à construção da melhor forma possível.
2. Telhado e estrutura da edificação
Outra etapa da bioarquitetura é avaliar a estrutura da construção, principalmente, o telhado. Hoje em dia, as telhas ecológicas são super populares e se dão muito bem em projetos como esse (especialmente quando comparadas a outros tipos de telhas).
A telha ecológica pode refletir mais de 50% da luz solar, são resistentes – inclusive à umidade – e também podem ser termoacústicas (saiba mais também sobre as telhas térmicas).
3. Pense no tratamento de resíduos
Em um projeto de bioarquitetura, os resíduos podem ser aproveitados para serem reutilizados mais tarde. Um exemplo disso são os “sanitários secos” ou o uso de restos de alimentos como forma de adubação para hortas presentes na casa.
4. Condições climáticas
Como mencionado no início do artigo, as condições climáticas são super relevantes em projetos como esse. Porém, além de pensar no clima e luminosidade a favor da construção, também é importante estruturar uma obra que seja confortável e que não ofereça riscos aos moradores.
Em lugares com uma intensidade maior de chuvas, por exemplo, os profissionais envolvidos no projeto precisam escolher materiais que evitam infiltração de água ou, até mesmo, pensar em uma inclinação específica para o telhado.
5. Sistema de ventilação
O sistema de ventilação mais utilizado em obras de bioarquitetura é o natural. Esse tipo de ventilação permite uma maior renovação do ar que circula no ambiente e evita desperdício de energia. Ademais, variáveis como direção, velocidade e frequência do vento também devem ser avaliadas.
A ventilação cruzada é uma forma de ventilação natural, por exemplo. Nesse tipo, o vento entra através das janelas, portas e aberturas que estão em paredes opostas, o que permite uma maior circulação de ar.
6. Luminosidade natural
A etapa da iluminação da construção também é ponto importante na bioarquitetura. O chamado sistema de luz natural é implementado nesse tipo de projeto e pode trazer diversas vantagens para os moradores.
Para fazer uso desse tipo iluminação, é necessário avaliar:
- A localização de todo o terreno;
- A posição do sol e os lados em que ele fique ao amanhecer e ao anoitecer;
- Os cômodos e como estão dispostos, para facilitar a passagem de luz.
Um bom material para trabalhar com a iluminação natural nos projetos de bioarquitetura é o vidro temperado – alguns deles podem ser feitos, inclusive, através do processo de reciclagem.
E quais os custos de um projeto de bioarquitetura?
É comum algumas pessoas acreditarem que produtos mais sustentáveis e iniciativas verdes são mais caras ou mais complexas – o que encarece todo o processo. Porém, a boa notícia é que é errado afirmar que esse tipo de projeto é mais caro, já que algumas coisas aumentam e outras reduzem os custos de uma bioconstrução.
O que é mais correto afirmar é que, de forma geral, o valor da obra sempre dependerá da forma em que o arquiteto trabalha, do que o terreno disponibiliza, do que o próprio morador deseja e etc.
Exemplo de Bioarquitetura no Brasil
Agora que você já teve contato com o conceito, as vantagens, materiais utilizados na bioconstrução e com etapas de um projeto como esse, vamos a um exemplo prático.
Buscamos exemplos de bioarquitetura tanto dentro quanto fora do Brasil – já que esse tipo de projeto também é muito conhecido em outros países, mas poucos foram encontrados.
No entanto, o projeto apresentado abaixo é brasileiro e com uma riqueza enorme de conceitos, beleza e biodiversidade. Dê uma olhada!
Projeto SustentAqui
O projeto SustentArqui promoveu a construção de uma casa ecologicamente correta seguindo todos os padrões direcionados à bioarquitetura. O arquiteto Michael Habib foi o responsável pela obra.
O valor dessa construção foi bastante parecido com o custo de uma construção normal. A quantia pode ser medida a partir de metros quadrados, sendo cerca de R$ 1.800 por m² – incluindo materiais, serviços, mão de obra e gerenciamento de toda a obra.
Ademais, a planta baixa é composta por duas suítes, dois dormitórios, lavabo, sala de jantar, um banheiro, varanda, mezanino, salão e garagem, área de serviço, despensa e cozinha integrada.
Em relação à estrutura, essa casa leva os seguintes materiais:
- Madeira de demolição ou reflorestamento;
- Taipa de pilão;
- Reboco de terra e cal;
- Entre outros elementos.
Além da terra utilizada no reboco, os materiais aplicados na obra também foram adquiridos na região da obra e, outros, foram frutos de reciclagem. Por exemplo, as telhas foram retiradas de uma demolição e os vãos de luz na parte interna da casa foram feitos através de garrafas de vidro descartadas.
Nesse mesmo projeto, também foi utilizada a coleta de água da chuva para fins não potáveis, como na rega de plantas, descargas, etc.
Outro ponto para dar destaque é que o projeto contempla a tríade da economia, âmbito social e ambiental.
Em termos econômicos, o projeto foi positivo ao utilizar reciclagem e fazer uso de materiais regionais. No âmbito social, a mão de obra escolhida para a construção também foi da região que, inclusive, foi capacitada com técnicas para um projeto de bioarquitetura.
Por último, no âmbito ambiental, a ideia foi de gerar o menor resíduo possível durante a obra, além de todas já apresentadas acima.
E, então? Aprendeu um pouco mais sobre projetos de bioarquitetura? Esperamos que o artigo tenha sido útil e que te inspire a colocar a arquitetura e decoração mais verde no seu dia a dia.
Aproveite e leia também sobre a união da arquitetura contemporânea ao clássico!