O crescimento acelerado da população, a escassez de alimentos e as mudanças climáticas são grandes desafios enfrentados em diversos lugares do mundo. Mas e se te contássemos que existe um sistema capaz de amenizar todos esses problemas de uma só vez? Conheça a Agricultura Urbana!

Também conhecida como Agricultura Periurbana (AUP), esta é uma estratégia de cultivo de produtos agrícolas e até de criação de animais em espaços urbanos e suas periferias. Por contribuir diretamente para a segurança alimentar, a geração de empregos e para a conservação de recursos naturais em grandes centros, essa tendência tem sido cada vez mais incorporada em diversos locais do mundo.

Conheça a agricultura urbana, seus benefícios, formas de cultivo e muito mais neste artigo!

O que é agricultura urbana?

A agricultura urbana e periurbana (AUP) é a atividade agrícola realizada no interior ou nos arredores de cidades. Essa prática consiste em cultivar alimentos, ervas e flores em espaços urbanos, como quintais das casas da rua e hortas comunitárias. Nos últimos anos, também tem sido possível encontrá-la em espaços mais reduzidos, como estufas, jardins verticais e telhados verdes.

O que é agricultura urbana
Agricultura urbana é a prática de cultivar alimentos e plantas em espaços urbanos, promovendo sustentabilidade alimentar nas cidades.

Geralmente, trata-se de uma produção simples, regular e sem agrotóxicos, em que os insumos são para consumo próprio ou venda em pequena escala. Dessa forma, a agricultura urbana não só auxilia o desenvolvimento econômico das comunidades, mas também colabora para a segurança alimentar e nutricional da população.

Hoje em dia, a agricultura urbana ainda é considerada uma abordagem complementar às atividades do campo (onde são mais prevalentes outros modos de cultivo como a agricultura de precisão). Mas isso ainda pode mudar: a ONU estima que, até 2050, a parcela da população que vive em áreas urbanas será de 70%.

Esse fator somado aos custos econômicos e ambientais da produção rural tornou a ideia de produzir nas cidades ainda mais atrativa, tanto do ponto de vista público quanto privado. Com isso, vários países ao redor do mundo já estão aderindo e promovendo a tendência da agricultura urbana – e o Brasil é um deles.

Agricultura urbana no Brasil

Como falamos, a agricultura urbana ainda é um conceito em expansão. Mas já é possível afirmar que ela tem se beneficiado de diversos fatores, sendo um deles o investimento de diversos países ao redor do mundo em iniciativas públicas e privadas que beneficiem esse tipo de cultivo.

Agricultura urbana no Brasil
No Brasil, a agricultura urbana cresce, fortalecendo segurança alimentar, sustentabilidade e economia local em áreas urbanas.

No Brasil, estima-se que há pelo menos 600 iniciativas de AUP em 11 regiões metropolitanas. Dada a sua grandeza em tamanho e biodiversidade, as plantações e as condições em que elas acontecem são variadas. Entretanto, há um destaque para a participação de grupos mais vulneráveis, como mulheres negras, desempregados, idosos, entre outros.

No ABC Paulista, por exemplo, há muitas hortas em espaços subutilizados ou abandonados, como terrenos de linhões de energia. Em Salvador, existem organizações como a das Ervateiras do Outeiro que realizam o cultivo e extrativismo de plantas com propriedades medicinais seguindo tradições antigas.

Quanto às políticas públicas, há o Programa Nacional de Agricultura Urbana e Periurbana do Governo Federal, criado para apoiar financeiramente a implantação de ações de agricultura urbana nas cidades.

O Sisan (Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional) é outra iniciativa do governo que incentiva os municípios a criarem planos de acesso à alimentação de qualidade que acabam abrangendo ações de agricultura urbana, assim como  o Pnae (Programa Nacional de Alimentação Escolar) que prioriza a compra de produtos de pequenos agricultores, inclusive os de áreas urbanas.

Segurança alimentar, bem-estar social e autonomia: a importância da agricultura urbana para a atualidade

Segurança alimentar, bem-estar social e autonomia_ a importância da agricultura urbana para a atualidade
A agricultura urbana fortalece segurança alimentar, fornece acesso a alimentos frescos e contribui para o bem-estar social nas cidades.

Não é de hoje que os grandes centros urbanos sofrem de muitos problemas ambientais. Há muitos anos, questões como a ausência da vegetação, a poluição causada pelas indústrias e o crescimento desordenado das cidades preocupam cada vez mais especialistas e governantes.

Inclusive, após o planeta registrar o mês mais quente de sua história em julho de 2023, veio o alerta: o mundo vive agora na era da “ebulição global”, como disse o secretário geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres.

E a catástrofe ambiental colabora para a humana: de acordo com um relatório recente da ONU, cerca de 2,3 bilhões de pessoas vivem em situação de insegurança alimentar no mundo todo. No Brasil, são 70,3 milhões em insegurança moderada ou grave.

Dentre vários fatores que contribuem para esse cenário, o diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), QU Dongyu, ressalta o impacto das mudanças climáticas e da Guerra na Ucrânia na produção de alimentos. 

“A recuperação da pandemia global foi desigual e a guerra na Ucrânia afetou os alimentos nutritivos e as dietas saudáveis. Este é o ‘novo normal’ em que as mudanças climáticas, os conflitos e a instabilidade econômica estão empurrando os que estão à margem ainda mais longe da segurança”, disse Dongyu.

É nesse contexto que a agricultura urbana intensifica a sua relevância, ao proporcionar o desenvolvimento de meios que contribuem para a qualidade de vida e segurança alimentar da população, sem contar a guinada sustentável da economia a partir da ampliação na oferta de emprego e renda, como veremos a seguir.

Os 7 principais benefícios da agricultura urbana

A agricultura urbana é muito mais do que apenas uma tendência moderna; é uma resposta inteligente e sustentável aos desafios alimentares e ambientais que as cidades enfrentam atualmente.

Ela não apenas promove a produção local de alimentos frescos e saudáveis, mas também desempenha um papel crucial na promoção da sustentabilidade, na revitalização de espaços urbanos abandonados e na melhoria da qualidade de vida das comunidades.

Conheça os 7 benefícios principais da agricultura urbana, que vão desde a segurança alimentar até o estímulo à economia local e a construção de cidades mais resilientes:

1. Promove a sustentabilidade nas cidades

1. Promove a sustentabilidade nas cidades
A agricultura urbana reduz desperdício, emissões e conserva recursos, fortalecendo a sustentabilidade ambiental nas cidades.

A sustentabilidade nas cidades é uma das principais consequências da agricultura urbana, já que ela proporciona inúmeros benefícios de diversas formas. Por exemplo, o cultivo local reduz o desperdício e a emissão gases de efeito estufa (GEE) oriundos do transporte, do armazenamento e dos processos industriais da produção de alimentos.

Outra questão importante é a contribuição da agricultura urbana para a regulação do microclima dessas áreas, pois ajuda na manutenção da biodiversidade.

A prática também promove técnicas de cultivo que fazem um uso mais eficiente dos recursos naturais e auxiliam na sua conservação, sem contar que os resíduos alimentícios de hortas caseiras e comunitárias podem ser aproveitados logo após a colheita dos produtos.

2. Colabora para a segurança alimentar das comunidades

2. Colabora para a segurança alimentar das comunidades
Agricultura urbana aumenta acesso a alimentos frescos, combate a fome e fortalece a segurança alimentar nas cidades.

Como falamos, a maioria das iniciativas e programas de agricultura urbana são voltadas para o consumo próprio. Dessa maneira, ela contribui diretamente para o combate à fome e à insegurança alimentar das comunidades, garantindo que elas tenham um acesso maior a alimentos saudáveis, sem se preocupar com crises econômicas ou outros problemas que possam afetar a sua alimentação.

3. Movimenta a economia local

3. Movimenta a economia local
A agricultura urbana gera empregos, promove negócios locais e impulsiona o crescimento econômico sustentável nas comunidades urbanas.

A agricultura urbana é uma grande aliada da movimentação da economia local e do decorrente crescimento sustentável das cidades, pois ajuda na criação de empregos e na geração de renda para os pequenos produtores.

Outro fator importante é o impulsionamento de empresas locais relacionadas ao desenvolvimento agrícola, a partir da venda de equipamentos e sementes para o cultivo de alimentos.

4. Produz alimentos mais saudáveis, frescos e saborosos

4. Produz alimentos mais saudáveis, frescos e saborosos
A agricultura urbana prioriza práticas orgânicas, evita produtos tóxicos e resulta em alimentos mais saudáveis e nutritivos.

Assim como cada passo do preparo de uma refeição influencia o seu sabor, o processo de cultivo de qualquer alimento também diz muito sobre a sua qualidade. Geralmente, a agricultura urbana contempla práticas mais orgânicas, que evitam o uso de produtos tóxicos e respeitam o tempo de maturação natural dos alimentos. Como resultado, eles acabam saindo muito mais saborosos e nutritivos.

5. Auxilia a revitalização de espaços urbanos

5. Auxilia a revitalização de espaços urbanos
A agricultura urbana transforma áreas abandonadas em espaços produtivos, revitalizando cidades e melhorando a qualidade ambiental.

Muitas iniciativas da agricultura urbana utilizam de áreas subutilizadas ou até mesmo abandonadas para realizarem seus cultivos, como terrenos baldios, quintais abandonados, entre outros.

Dessa forma, a abordagem é uma ótima forma de promover a revitalização de espaços urbanos, ao transformá-los em locais úteis e produtivos para a população. Isso sem contar o impacto na saúde ambiental desses locais, a partir da melhoria na qualidade do ar e do solo.

6. Torna as cidades mais resilientes e autossuficientes

6. Torna as cidades mais resilientes e autossuficientes
A agricultura urbana reduz a dependência de importações, tornando cidades mais autossuficientes em alimentos e resilientes a crises.

Outro benefício pouco comentado sobre a agricultura urbana, mas que torna a prática um verdadeiro ‘salva-vidas’ é o fato dela tornar as comunidades mais resilientes e autossuficientes em tempos de necessidade, como crises econômicas e ambientais.

Isso porque, quando há o cultivo local de alimentos, a dependência das importações de outros lugares é reduzida, e as cidades aumentam sua capacidade de enfrentar possíveis interrupções nas cadeias de abastecimento. Dessa forma, o investimento em iniciativas de agricultura urbana pode ser considerado uma medida de proteção adicional contra a insegurança alimentar.

Um exemplo é a crise alimentar que a Europa tem enfrentado em decorrência da Guerra na Ucrânia. A invasão russa paralisou os portos ucranianos, que eram o principal canal de transporte de grãos para o mundo todo. Como resultado, cerca de 345 milhões de pessoas estão passando fome, na crise alimentar que o Fundo Monetário Internacional (FMI) declarou ser a pior desde 2008.

7. Proporciona maior saúde física e mental

7. Proporciona maior saúde física e mental
A agricultura urbana promove hábitos alimentares saudáveis e contato com a natureza, melhorando a saúde mental e física.

Comer bem e de forma equilibrada é a chave para ter uma boa saúde física e mental. A pobreza nutricional, causada tanto pela baixa ingestão de comida quanto pelo consumo exagerado de alimentos industrializados, já é apontada pela ciência como um fator de risco para o desenvolvimento de várias doenças.

Sendo assim, as cidades que investem nas práticas de agricultura urbana e estimulam o consumo de produtos de boa qualidade nutricional estão contribuindo diretamente para a saúde da sua população.

Agricultura urbana: saiba como fazer o cultivo em espaços reduzidos

Agricultura urbana_ saiba como fazer o cultivo em espaços reduzidos
Praticar agricultura urbana requer espaço, solo fértil, luz solar e cuidados para cultivar alimentos em ambientes urbanos.

Se interessou pela agricultura urbana e quer praticá-la? Uma boa forma de começar é cultivando ervas, plantas e flores em uma horta urbana, que pode ou não ser na sua casa. Mas, antes de planejar quais produtos você vai cultivar na sua horta, é preciso se atentar em alguns pontos importantes.

O primeiro deles diz respeito ao espaço que, é claro, não precisa estar necessariamente na sua casa – ele pode até ser público e compartilhado, como um lugar subutilizado de grama no seu condomínio. E mesmo se não houver um pedaço de terra com solo disponível, ainda assim é possível fazer a sua plantação em vasos ou suportes em espaços menores, como é o caso das hortas verticais.

Sol e água são essenciais para o sucesso de uma plantação, então, não se esqueça desse detalhe ao escolher o local que abrigará a sua futura horta urbana. É interessante aplicar sistemas de gerenciamento de recursos naturais, que ajudem a reduzir o desperdício e a manter as plantinhas hidratadas.

Enriquecer o solo é outra medida importante, afinal, uma terra infértil dificilmente cumprirá o dever de nutrir o plantio. Por isso, observe se no local já existem alguns tipos de vegetação. Caso contrário, procure fazer a compostagem de restos alimentares para ajudar nesse fator. Evite os adubos solúveis, que provocam a infertilidade da terra e contém muitas substâncias tóxicas, que impactam diretamente na qualidade dos alimentos.

Lembre-se também de usar canteiros e vasos para agrupar o solo. Eles facilitam a manutenção dos produtos e o manejo da terra, além de evitarem que a terra seja contaminada ao caminhar sobre ela.

Outra dica importante é alternar os cultivos, para não desgastar o solo. Então, se foi plantado um vegetal de raiz, o próximo cultivo naquele local deve ser de um fruto ou de uma hortaliça.

As melhores plantas para agricultura urbana

As melhores plantas para agricultura urbana
Tomates, alfaces, morangos, ervas, pimentões e culturas compactas prosperam em espaços reduzidos da agricultura urbana.

Espaços reduzidos pedem cultivos que têm um crescimento sadio em pequenos espaços. Por isso, as melhores plantas para se cultivar em uma iniciativa de agricultura urbana incluem ervas, tomates, pimentões, alfaces e morangos. Elas não só são fáceis de manejar, mas também não demandam grandes pedaços de solo para germinarem. Outras plantas que se dão bem com o cultivo em vasos são:

  • Jabuticaba, amora e acerola;
  • Alho, feijão, pimenta e gengibre;
  • Tomilho, salsinha, coentro e orégano.

Para uma horta urbana dar certo, também é preciso investir na diversidade de plantas, que cumprem funções distintas e auxiliam o crescimento saudável umas das outras. Esse conceito é conhecido na ciência como alelopatia, que é a capacidade das plantas de produzirem substâncias que impactam, negativa ou positivamente, o desenvolvimento das demais naquele ambiente. São exemplos de alelopatia favorável:

alelopatia favorável
Alelopatia favorável é quando as plantas liberam substâncias que promovem o crescimento ou desenvolvimento de outras plantas próximas.
  • Espinafre e morango;
  • Falso boldo, cebola e alface;
  • Beterraba, couve e alface;
  • Cenoura e ervilha;
  • Mamão e milho.

E de alelopatia desfavorável, podemos citar:

  • Mamão inibe a germinação de alface, tomate e cenoura;
  • Eucalipto inibe o crescimento de hortaliças como mostarda, couve, rúcula e alface, assim como de rabanete e tomate.
alelopatia desfavorável
Alelopatia desfavorável é quando as plantas liberam substâncias que inibem o crescimento ou desenvolvimento de outras plantas próximas.

Dica importante: se estiver considerando cultivar espécies mais frágeis, que são alvo fácil de presas, é interessante intercalar com plantas que são repelentes naturais, como a lavanda, a citronela e o manjericão. Outra medida para proteger seu cultivo de interesse dos bichinhos é plantando espécies que os atraiam mais, como a hortelã e a bromélia.

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