Que o agronegócio é um dos pilares mais importantes para o desenvolvimento econômico e social de diversos países, incluindo o Brasil, não é novidade. Com o passar dos anos e a consequente evolução dos processos produtivos, a demanda por produtos de qualidade a partir de plantios sustentáveis e eficientes aumentou drasticamente em todo mundo – e com ela a agricultura de precisão.
Isso exigiu cada vez mais das lavouras – especialmente as brasileiras, que seguem batendo recordes de produção e estabelecendo cada vez mais protagonismo na balança comercial e exportação de produtos agrícolas.
Nesse contexto, cresceu também o desafio de conciliar as necessidades do setor com práticas que ajudem a aprimorar a produtividade, otimizar recursos e minimizar os impactos ambientais. É assim que surge a agricultura de precisão (AP), um sistema de gerenciamento e monitoramento detalhado da produção agrícola cuja utilização tem fortalecido o agronegócio brasileiro exponencialmente.
A agricultura de precisão parte do pressuposto de que uma propriedade agrícola não uniforme, ou seja, cada espaço de uma fazenda terá características e necessidades diferentes. Com isso, o conjunto de tecnologias que constituem essa metodologia oferece diversos benefícios para as lavouras.
Neste artigo, vamos explorar a agricultura de precisão e aprender sobre as ferramentas utilizadas nesse sistema, bem como suas vantagens para a produção agrícola.
O que é agricultura de precisão?
Agricultura de precisão, de acordo com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), é um sistema constituído por ferramentas e tecnologias que possibilitam ao produtor rural monitorar e gerenciar suas lavouras de forma localizada, considerando a variabilidade das áreas de uma propriedade para realizar o manejo adequado de suas produções.
Com o auxílio de tecnologias avançadas implantadas em máquinas agrícolas ou programas de informação geográfica, os sistemas de agricultura de precisão coletam, processam e analisam dados sobre cada ponto das propriedades, como o clima, a situação do solo e a presença de patógenos agrícolas – enfim, informações relevantes para o sucesso do cultivo. Consequentemente, os produtores têm mais precisão e cautela ao calcular as medidas necessárias para solucionar os problemas encontrados.
A partir do conhecimento mais aprofundado das áreas disponíveis para plantio, há também um manejo mais rentável de insumo e um planejamento eficiente das atividades agrícolas. Com isso, os fazendeiros podem otimizar recursos, aumentar o retorno econômico e, ainda, auxiliar para a preservação ambiental.
Resumidamente, a agricultura de precisão tem como principal propósito a otimização do retorno econômico dos produtores ao garantir que os insumos agrícolas sejam aplicados no local correto, em quantidades adequadas e no momento mais certeiro.
Uma breve história da agricultura de precisão
Ainda segundo a CNA, a agricultura de precisão só chegou ao Brasil em meados da década de 1990, embora os primeiros registros acadêmicos relacionados à técnica sejam de 1920. Os avanços importantes da área tomaram força a partir dos anos 2000, quando o GPS (Sistema de Posicionamento Global, em inglês) se tornou amplamente utilizado ao redor do mundo.
Hoje, com a grande evolução protagonizada pela tecnologia em diversos aspectos no campo da agricultura de precisão, o setor agrícola se inclina para o seu estágio “Big Data”, ou seja, da análise rápida e eficiente de uma grande quantidade de dados. Com isso, os produtores terão a oportunidade de prever possíveis problemas, enquanto os equipamentos autônomos executarão as operações agrícolas a partir de decisões mais assertivas e embasadas.
Qual a diferença entre a agricultura de precisão e a agricultura convencional?
Apesar de terem o mesmo objetivo, de produzir alimentos e matérias-primas de qualidade, as metodologias de cultivo convencional e da agricultura de precisão são muito diferentes.
A agricultura convencional envolve práticas padronizadas e homogêneas de cultivo. Com isso, a aragem, fertilização e aplicação de pesticida no solo de uma propriedade é realizado de maneira uniforme, sem que as particularidades de cada área sejam levadas em consideração. A produção segue um cronograma padrão de plantio, cuidados e colheita, independente das condições.
Mesmo que seja uma abordagem mais simplista, que requer menos recursos financeiros e tecnológicos, a agricultura convencional já perdeu seu espaço nas produções de larga escala há muito tempo, justamente pelo desperdício de água e fertilizantes. Além disso, ao ignorar a variabilidade das condições do solo e das plantações na propriedade, a agricultura convencional tem limitações importantes, como a falta de previsibilidade e a consequente resposta inadequada a possíveis desafios.
A agricultura de precisão, por sua vez, pode ser considerada a evolução tecnológica dos métodos de cultivo tradicionais. Ela envolve o uso de sistemas e ferramentas avançadas para a coleta e análise de dados relevantes para o sucesso e a qualidade das produções agrícolas. Assim, a AP tem o objetivo de tornar o cultivo mais adaptável às variabilidades do solo e do clima, de forma a proporcionar um cultivo mais eficiente e sustentável.
Embora a agricultura convencional seja inicialmente mais acessível em termos de custo, a aplicação de metodologias de AP oferece benefícios financeiros e ambientais a longo prazo, como veremos a seguir.
Vantagens da agricultura de precisão
Como falamos, a agricultura de precisão parte do princípio de que as áreas de uma fazenda nunca serão completamente iguais e, com isso, terão necessidades diferentes para garantir a qualidade do cultivo. Mas muito mais do que apenas levar em consideração a variabilidade entre as porções de uma propriedade, um sistema de AP proporciona muitos outros benefícios para a produção agrícola.
Melhoria no controle de pragas
A partir de equipamentos e sistemas tecnológicos avançados, a AP atua de forma muito eficiente na melhoria do controle de pragas a partir do fornecimento de informações detalhadas e em tempo real sobre a presença e disseminação de agentes patógenos nas lavouras através de tecnologias de geolocalização.
Com isso, os produtores podem fazer o mapeamento e monitoramento contínuo de áreas afetadas, além de aplicações direcionadas de pesticidas, evitando o uso excessivo de produtos químicos.
Tomadas de decisão mais assertivas
Com o uso de sistemas e aparatos tecnológicos, os produtores têm acesso a dados mais precisos sobre as condições das lavouras, dos solos e do clima. Assim, são capazes de tomar decisões mais assertivas, fazendo escolhas estratégicas para otimizar o manejo das plantações.
Mais produtividade
Um estudo realizado pelo Departamento Técnico da Federação da Agricultura e Pecuária do Mato Grosso do Sul (Famasul), ao aplicar sistemas de agricultura de precisão em suas lavouras, o produtor rural tem um aumento de até 29% na produtividade e reduz, em média, 23% dos gastos com insumos como fertilizantes e pesticidas. O levantamento aponta que esse crescimento acontece independentemente do porte do produtor – pequeno, médio ou grande.
Longevidade do solo
Ao levarem em consideração as características específicas de cada porção do solo em diferentes áreas da lavoura, os agricultores podem adotar práticas de manejo mais sustentáveis e precisas, contribuindo diretamente para a saúde e longevidade do solo.
Baseando-se em informações mais detalhadas e precisas sobre a acidez, a fertilidade e a compactação do solo, os produtores têm a oportunidade de selecionar os insumos mais adequados para determinadas porções, além de aplicá-los de forma direcionada, evitando excessos capazes de degradar a qualidade do solo ao longo do tempo.
Além do controle de qualidade e vulnerabilidade, a AP também auxilia na conservação das terras, a partir de técnicas como plantio direto e rotação de culturas.
Controle mais robusto de cada fase do cultivo
Com a ajuda das informações mais detalhadas sobre as condições do campo e das culturas em tempo real, os agricultores podem monitorar o desenvolvimento e a saúde das plantas. Assim, são capazes de identificar problemas como pragas, doenças ou deficiências nutricionais antes das plantações sofrerem as consequências, tomando medidas protetivas ou corretivas mais direcionadas para cada situação.
Dessa forma, os produtores garantem o máximo desempenho de suas culturas, aproveitando-se dos dados para fazer o manejo correto de acordo com as condições do solo ou climáticas e evitando grandes perdas.
Diminuição de custos
A agricultura é uma ótima aliada na redução de custos na produção agrícola ao fomentar o uso eficiente de fertilizantes e pesticidas, direcionando-os a áreas específicas da lavoura e evitando a superdosagem. Além disso, ao possibilitar a identificação precoce de possíveis prejuízos à produção, a AP é capaz de auxiliar diretamente na redução de desperdícios e na gestão estratégica de recursos.
Sustentabilidade
A agricultura de precisão oferece diversos benefícios para agricultores que querem potencializar a sustentabilidade em suas lavouras. Isso porque os dados fornecidos pelo sistema auxiliam na aplicação adequada de recursos hídricos, evitando o desperdício de água.
Outro ponto que reforça o aspecto sustentável da AP está relacionado ao uso de tecnologias avançadas, como tratores autônomos e drones, que diminuem significativamente a dependência de máquinas pesadas, que precisam de combustíveis fósseis para funcionar.
Tecnologias utilizadas na agricultura de precisão
Mesmo que seja um campo em constante evolução, a agricultura de precisão tem algumas tecnologias que já se consolidaram como as principais e mais conhecidas no ramo. São elas:
Global Positioning System (GPS)
Conhecido e utilizado mundialmente para auxiliar na localização, no contexto da AP, é muito usado para rastrear e localizar máquinas e equipamentos agrícolas em tempo real. Além disso, possibilita a implementação de tecnologias como o piloto automático.
Sistemas de telemática
Um sistema inteligente é instalado nos veículos e, assim, reporta todos os detalhes de localização e movimento. Essa é a definição dos sistemas de telemática, conhecidos também como rastreamento de frota ou de veículos, que permitem o monitoramento de veículos por meio da tecnologia de GPS e diagnóstico a bordo (OBD), traçando os movimentos do veículo em um mapa computadorizado.
Dessa forma, é possível controlar e localizar maquinarias pela propriedade, garantindo mais controle sobre seus movimentos, além de mapear e zonear lavouras com características semelhantes,
Sensores e dispositivos inteligentes
Uma das formas que os agricultores têm de deixar suas lavouras mais inteligentes é através da instalação de sensores para a agricultura. Eles permitem a coleta de dados importantes sobre a umidade, a vegetação, o solo e outros elementos relevantes para o sucesso do cultivo.
Dessa forma, ajudam a reduzir os riscos associados à produção agrícola, como perdas devido a condições climáticas desfavoráveis ou pragas não controladas. Existem vários tipos de sensores, para diferentes finalidades: os sensores ópticos para o solo, os térmicos para a radiação, os elétricos para medir a condutividade, entre outros.
Drones e imagens de satélite
Considerados uma das grandes evoluções e inovações dentro da agricultura de precisão, os drones auxiliam a monitorar as propriedades de forma mais precisa e direcionada, coletando informações e imagens em tempo real.
São um grande complemento para as imagens de satélite, que fornecem uma visão mais generalizada das fazendas. Dessa forma, ambos auxiliam na gestão e, consequentemente, na melhoria da produtividade das lavouras.
Automação e robótica
Tratores autônomos, pulverizadores inteligentes, máquinas conectadas, robôs de colheita, deservagem e poda – são inúmeros os exemplos de equipamentos altamente desenvolvidos e avançados utilizados em sistemas de agricultura de precisão.
Nesse contexto, o sistema não auxilia só na questão da produtividade, mas também para estimular a inovação no campo tecnológico.
Aplicações práticas da agricultura de precisão
Como vimos, os sistemas de agricultura de precisão são compostos por diversos dispositivos de finalidades específicas. Todos eles colaboram para uma produção agrícola mais rentável e de alta qualidade, já que as plantações são monitoradas com mais afinco e os insumos são manejados de forma apropriada. É por isso que a AP tem ganhado cada vez mais adeptos ao redor do mundo, já que permite diferentes aplicações práticas para a necessidade de cada lavoura.
Além de fornecer uma análise minuciosa de dados e auxiliar na tomada de decisão de forma mais assertiva, os sistemas de AP auxiliam também no mapeamento do solo: a partir de sensores inteligentes, são capazes de mapear a variabilidade das terras em cada área da propriedade, identificando suas diferentes características para uma aplicação personalizada de insumos agrícolas, de acordo com suas necessidades.
Outra aplicação prática da AP é no monitoramento da saúde das plantas, através de sensores ópticos ou de drones. Dessa forma, os agricultores têm a chance de identificar e corrigir áreas afetadas por excesso ou escassez de água, pragas e doenças.
Para grandes propriedades, a mão de obra para irrigação, colheita e plantio pode não ser uma boa escolha. É nesse sentido que os sistemas de agricultura de precisão garantem mais produtividade e até mesmo redução de custos, uma vez que são capazes de proporcionar todas essas atividades de forma automatizada.
Como podemos ver, a agricultura de precisão nada mais é que a integração de equipamentos tecnológicos de ponta com as práticas agrícolas. Se antes ela era considerada uma tendência, hoje ela é uma técnica que chegou para ficar, ao trazer inúmeras vantagens para o cultivo, a colheita e a exportação de produtos agrícolas e, assim, possibilitando melhorias consideráveis para o agronegócio no Brasil e no mundo.
