Escolher o tipo do telhado é uma decisão para tomar-se logo no início do projeto, pois ao contrário do que parece, é uma escolha que influencia na arquitetura e funcionamento do imóvel. O sistema de águas-furtadas é um exemplo de como se pode alinhar design e funcionalidade.
Pouco comum nos dias atuais, quando procurada em sua versão mais antiga, a estrutura foi muito utilizada há alguns anos, principalmente nas construções de estilo colonial. Mas o seu charme e a sua eficiência ainda o torna uma opção a ser cogitada na construção civil. Inclusive, tomando outras formas e adquirindo um papel indispensável. Isso porque, a sua inclinação a torna perfeita para comportar uma janela, que na maioria das vezes, partia do sótão.
Por isso, se está criando a sua planta-baixa, não deixe de entender melhor sobre o sistema de águas-furtadas. Continue lendo e conheça tudo que precisa saber sobre este tipo de telhado.
O que são águas-furtadas?
Água-furtada é uma parte do telhado constituída por uma aresta inclinada delimitada pelo encontro de duas águas que formam um ângulo reentrante. Portanto é o local para onde convergem as águas que caem sobre o telhado. Por este motivo, também é conhecida por calha ou “rincão”.
Por sua finalidade de definição do limite inferior do telhado, serve também para determinar o espaço que o próprio telhado delimita, ou seja, o sótão, especialmente se este for desprovido de janelas.
Os pontos de encontro das mansardas e o telhado também são chamados de águas-furtadas, e por este motivo, muitas vezes, as próprias mansardas são também chamadas de água-furtada.
Para que serve o sistema de águas-furtadas?
A estrutura de água-furtada no telhado serve para assegurar que haverá o escoamento inteligente de água da chuva por meio de calhas.
É uma ótima opção para quem quer reaproveitar a água da chuva. A sua aplicação não é interessante somente para envolver toda a cobertura da residência, mas também estruturas específicas, como varandas.
O sistema de águas-furtadas é elaborado com um vão entre as estruturas do telhado, chamadas de tesouras, que são desenhadas em uma angulação que faz com que a água da chuva corra de maneira concentrada para chegar a um determinado ponto.
Quais as vantagens do sistema de águas-furtadas?
As águas-furtadas não são itens adicionados apenas por estética ou para acrescentar ao telhado, a sua utilização promove vantagens importantes para a construção. Confira as principais vantagens do sistema de águas-furtadas:
Evita a umidade na construção
Com a aplicação da calha, a água proveniente da chuva não escorre diretamente nas paredes. Isso evita que a água entre na construção, seja ela de madeira, concreto ou outro material.
Essa barreira faz com que não crie umidade nas divisórias externas e internas, mantendo a qualidade. Ainda evita o apodrecimento das paredes de madeira.
Previne o apodrecimento dos beirais
Assim como nas paredes, a calha auxilia no cuidado com os beirais e nos telhados, pois faz com que a água da chuva não tenha contato direto com essa superfície.
Não cria buracos no chão
Sem a calha, a água da chuva escorre geralmente em pontos específicos e fortemente, o que provoca buracos no chão. Com a sua utilização, o jardim não é prejudicado com essas oscilações em sua superfície.
Possibilita o armazenamento em cisternas
Por fim, a utilização da calha possibilita o armazenamento em cisternas da água da chuva. Ela pode ser usada para regar plantas, lavar carros ou calçadas, entre outras coisas. O que colabora também para a sustentabilidade.
Quais os outros elementos do telhado?
Antes de aprofundar-se no conceito, execução e desempenho do sistema de águas-furtadas, é interessante compreender como o telhado funciona como um todo. Saber a função de cada item auxilia na decisão de aplicar ou não este elemento no seu projeto.
Confira os principais elementos do telhado:
- Tesouras: as tesouras são a por onde a construção do telhado começa. As peças são colocadas para fechar o vão transversal formado pela inclinação das diferentes águas, e que ficam dispostas nas extremidades do ponto mais alto da edificação;
- Terças: as terças são adicionadas diretamente em cima das tesouras. A sua função é ocupar o vão entre as partes de sustentação do telhado. São posicionadas de forma longitudinal e em cima dos pontos de apoio da tesoura em sua estrutura mais externa, e tem dimensões imensas para começar a construir a estrutura de sustentação das telhas;
- Caibros: os caibros são inseridos perpendicularmente às terças por meio de pregos para que ela possa começar a receber mais peso;
- Ripas: as ripas são adicionadas no mesmo sentido das terças, mas diferentemente delas, são postas em cima dos caibros e em espaçamentos menores, e perpendiculares a eles, isso faz com que se formem quadrados. O padrão é que seja colocada uma ripa em cada linha de telha, portanto, a quantidade depende do tamanho, tipo e peso da telha;
- Trama: a trama é formada a partir do entrelaçamento das ripas e dos caibros. O item atua como uma grade que dará sustentação às telhas e é essencial para que não haja infiltrações posteriormente;
- Beiral: o beiral é a projeção da estrutura do telhado para fora do alinhamento da parede. A sua função é evitar que a água caia diretamente sobre a construção e escorra, por isso, dá espaço para as calhas, e, evita assim que a água entre pelas janelas e portas;
- Cumeeira: a cumeeira é o ponto mais alto do telhado e tem o papel de dividir águas, direcionando a água para os pontos de escoamento. Seu revestimento é diferente do restante do telhado e é feito com uma telha própria;
- Espigão: o espigão é a aresta que delimita o encontro de duas águas que formam um ângulo saliente. É revestido com uma telha própria e fica em evidência por ser ressaltado;
- Rufo: o rufo tem a função de evitar que águas pluviais ultrapassem o telhado, não deixar que ocorram infiltrações, e normalmente é colocado em locais onde há encontro de telhado e parede, que não é feito o encaixe perfeito entre as telhas no restante da estrutura;
- Fiada: a fiada é a fileira de telhas dispostas na direção da largura, que estão posicionadas perpendicularmente às terças;
- Peça complementar: a peça complementar é a telha que foi citada na parte da cumeeira e do espigão. Ela é o acabamento das partes citadas, que é feita com encaixe diferente. A sua função é evitar que ocorra infiltração e dar um acabamento diferente no encontro das águas, que o ressalta.
Qual a calha utilizada para águas-furtadas?
Como comentamos, o sistema de águas-furtadas é utilizado há muitos anos no Brasil, inclusive com um design diferenciado antigamente, que proporciona um cômodo extra, que muitas vezes era o sótão.
Nesta época, esses telhados eram construídos com vários tipos de telhas, onde os materiais eram instalados com perfis mais baixos e elevação na inclinação. O grande problema era a dificuldade no encaixe, pois as oscilações geralmente ocasionavam dificuldades para a substituição, superfícies irregulares e quebra de peças.
Mas atualmente, com as soluções modernas, as estruturas da calha para águas-furtadas atendem melhor essa demanda. Algumas com sarrafos mais elevados no pedaço que é maior, e quase zero na parte menor da telha.
Outro tipo de calha que está em alta para essa finalidade são as calhas de alumínio com pintura de alta resistência, o que garante maior durabilidade e melhor acabamento, sendo possível combinar com a cor das telhas.
Como fazer água furtada com metal?
Dependendo do material, a construção da água-furtada exige alguns passos espaciais. Por exemplo, para a execução das calhas de água-furtada em metal, deve-se interromper os sarrafos que são conectados às telhas no caminho até a viga central.
Realizando o processo assim, a viga central para a água-furtada será utilizada como apoio aos caibros. Indo de acordo com a estrutura, um sarrafo necessitará ser instalado no topo com cerca de 1 cm de altura para a conexão com a calha de metal. Já as calhas de metal deverão ser dobradas com acompanhamento na medida do sarrafo, mantendo um vinco centralizado.
Como construir água-furtada de alumínio para o telhado?
Outra opção simples de calha de água-furtada é a de alumínio. Ela deve ser instalada com uma ripa de cerca de 50cm, que deve ser posicionada entre as ripas já existentes no telhado. Desta forma, o sistema de águas-furtadas fica mais resistente e impede que haja amassados durante e após a instalação.
Algumas boas práticas no momento da compra dos materiais auxiliam no sucesso do canteiro de obras, como por exemplo, optar por um sistema de água-furtada que já venha com vincos, o que evita desenhos irregulares para a estrutura. Outro cuidado importante é com o centro do rincão, o ideal é que a estrutura tenha um quebra água, garantindo que, mesmo em chuvas torrenciais, a água não passe para o telhado.
Já a quina do sistema de metal deve ser dobrada com uma quina ou caibro utilizados como guia. Para fazer isso, meça a metade do vinco central, assim formará quebra-águas, e em seguida dobre os vincos laterais.
Importante destacar que a instalação deste modelo deve ser feita no sentido de baixo para cima, utilizando pregos para fixar sobre o ripamento. Enquanto nas laterais, o recomendado é aplicar cola de silicone para assegurar a fixação e evitar vazamentos.
Já nos acabamentos, os excessos podem ser removidos com tesouras de chapa comum. As dobras laterais devem ser voltadas para dentro, evitando a sobra de água e aumentando a eficiência da estrutura.
Quantos metros de calhas são necessários para um telhado?
Antes de saber qual a quantidade de material que será necessário para montar o sistema de água-furtada, é necessário conhecer o tamanho total do telhado em m². Esse cálculo determinará o nível de vazão de água, além de entender sobre quantos dutos serão necessários.
O melhor é contar com o auxílio de um especialista, principalmente porque cada projeto tem suas peculiaridades. Mas podemos ter uma base ao analisarmos as recomendações das fabricantes de calhas.
As indicações são de que é necessário instalar um duto para cada 70 cm² de telhado. No entanto, existem orientações de outros profissionais de que é necessário considerar a vazão por cm², levando em consideração a inclinação da telha e o material utilizado.
Portanto, mesmo com essas recomendações, o ideal é consultar o profissional responsável pelo seu projeto antes de gastar com material.
Como calcular o tamanho do telhado?
Quando o assunto é cálculo de telhado, existem duas medidas importantes para serem analisadas: o comprimento linear e o beiral. Confira o passo a passo de como calcular ambos:
Beiral de um telhado
- Meça o comprimento e a largura do telhado para determinar a metragem quadrada total dessa área. Anote as medidas e então meça o beiral do telhado; o beiral está localizado onde as treliças estendem-se sobre a placa superior da casa;
- Em seguida, calcule a distância da borda do telhado até a extremidade das treliças; o beiral geralmente não possui mais de 15 cm. Some a medida ao valor total da largura da casa. Se a largura medida foi de 6 m e o beiral possui 20 cm, então a medida total será de 6 m e 20 cm ou 6,2 m;
- Multiplique a medida da largura pelo comprimento para chegar à metragem quadrada total com beiral do telhado. Se o comprimento medido foi de 9 m, multiplique-o por 6,2 m para obter 55,8 m^2. Essa é a metragem quadrada, incluindo o beiral, do telhado.
Comprimento linear
- Veja no projeto da construção qual é a inclinação do telhado; a inclinação significa a elevação do telhado sobre o comprimento, em centímetros. Por exemplo, uma inclinação de 7/12 significa que o telhado eleva-se 7 cm para cada 12 cm de comprimento;
- Após encontrar a elevação do telhado, eleve as duas medidas da inclinação ao quadrado;
- Feito isso, calcule a raiz quadrada do produto no passo 2. Desta forma você obterá o comprimento linear do telhado em questão. Com essas duas medidas você consegue chegar a conclusão de quanta calha será necessária para o seu imóvel.