Nas terras quentes da Colômbia, no coração da Ámérica do Sulonde os rios serpenteiam pelas selvas e pelo gado, prospera uma criatura enorme e fascinante que não pertence ao continente: o hipopótamo africano.
Em 2024, o Recordes Mundiais do Guinness reconheceu oficialmente esta população como maior espécie invasora do planetauma ironia ecológica que coloca o segundo animal terrestre mais pesado do mundo – depois do elefante – num território que nunca foi seu.
A origem: da Hacienda Nápoles aos rios colombianos
A história começou na década de 1980, quando o traficante Pablo Escobar Ele trouxe quatro hipopótamos – três fêmeas e um macho – da África para seu zoológico particular no Fazenda Nápolesna Colômbia. Após sua morte, em 1993, os animais ficaram descontrolados, fugiram para rios próximos e começaram a se reproduzir livremente.
O que parecia uma curiosidade exótica tornou-se uma fenômeno biológico sem precedentes. Hoje, segundo estudos de Instituto Humboldt e o Universidade Nacional da Colômbiaestima-se que existam entre 150 e 200 hipopótamos distribuído principalmente em rios Madalena e Cauca.
Uma população sem predadores naturais
Em África, os hipopótamos habitam ecossistemas regulados por predadores naturais e dinâmicas ecológicas que limitam a sua expansão. Na Colômbia, porém, Eles não têm inimigos naturaiso que permitiu um crescimento descontrolado.
Estima-se que a população, estimada em 168 indivíduos em 2023poderia alcançar 400 até 2030 se nenhuma ação for tomada.
Impactos ambientais e riscos sociais
A presença de hipopótamos na Colômbia gera múltiplos impactos:
- Invasão do ecossistema: Removem sedimentos, destroem a vegetação e alteram a qualidade da água com seus resíduos orgânicos.
- Ameaça à fauna nativa: competir por recursos com espécies como o chiguiroele peixe-boio lontras e o bagre listradoessencial para as comunidades locais.
- Impacto no ecossistema: modificam a flora e a fauna dos rios, alterando o equilíbrio natural.
- Crescimento acelerado: sua rápida reprodução multiplica o problema ambiental e ecológico.
- Riscos para as comunidades: Embora pareçam dóceis, os hipopótamos são territoriais e agressivos. Em África, causam mais mortes humanas do que qualquer outro mamífero selvagem, representando um perigo real para aqueles que vivem perto dos rios colombianos.
O dilema ético e político
O debate sobre o que fazer com os hipopótamos divide ambientalistas, políticos e comunidades locais. As opções incluem:
- Erradicação: eliminar a população para proteger a biodiversidade.
- Mudança: transferi-los para zoológicos ou reservas controladas.
- Esterilização: controlar sua reprodução sem sacrificar indivíduos.
Cada alternativa apresenta desafios científicos, logísticos e éticos. Enquanto isso, os hipopótamos continuam sua marcha lenta e silenciosa pelos rios colombianos, convertidos em símbolo de um desequilíbrio criado pelos seres humanos.
Um problema ambiental e social nacional
O caso dos hipopótamos na Colômbia é único no mundo e reflete como uma decisão isolada pode desencadear um grande problema ambiental. A maior espécie invasora do planeta ameaça a biodiversidade nativa, coloca as comunidades locais em risco e coloca um dilema ético sobre como agir contra uma população que nunca deveria ter existido.
Os hipopótamos de Pablo Escobar são hoje um fenômeno biológico e social sem precedentes na América do Sul. A sua presença na Colômbia representa uma ameaça à biodiversidade e à segurança das comunidades, mas também um desafio ético e político sobre como gerir uma espécie invasora de tal magnitude.
O futuro destes animais dependerá das decisões tomadas nos próximos anos: se a sua população poderá ser controlada ou se continuarão a expandir-se, alterando para sempre os ecossistemas da região.
Com informações da AFP e Econews.
